Opinião

Dostoiévski, uma usina literária.

Poucos escritores conseguiram criar uma obra literária que ultrapassou os séculos e permanece atual, pela relevância de sua temática e profunda análise psicológica dos seus personagens, como Fiodor Dostoiévski (1821-1881). Nascido na emblemática data de 11/11, em Moscou, ele recebeu a melhor educação possível na Academia de São Petersburgo e logo abraçou a carreira literária.

Com apenas 24 anos de idade publicou Gente Pobre, em 1846. Nesta obra, o autor retrata o panorama da pobreza em São Petersburgo, na primeira metade do século 19, por meio de personagens que tem uma vida insignificante, sem perspectivas. Um livro que mostra a paupérrima situação de milhões de russos enquanto o Czar e sua família viviam no luxo e na riqueza.

Em Recordações da Casa dos Mortos, de 1862, ele narra o cotidiano das prisões na Sibéria, no extremo leste russo. Onde ele mesmo esteve preso. Antecipando a nós o cenário de Arquipélago Gulag, de Alexander Soljenítsin.

Mas seu apogeu como escritor veio em 1866, com Crime e Castigo. Considerada por críticos como uma das cem mais importantes obras da literatura universal. Na obra, o personagem Raskólnikov executa um latrocínio e foge ficando impune. Mas o sentimento de remorso e culpa acabam levando o jovem criminoso a confessar seu crime às autoridades. O livro faz uma análise psicológica da condição humana e suas adversidades sendo um prato cheio para os estudiosos do Direito Penal.

Na obra Os Demônios, de 1871, Dostoievski narra o assassinato de um estudante russo por um membro do niilismo que foi um movimento cultural que influenciou a juventude aristocrática russa na segunda metade do século 19. A maioria dos seus adeptos era a favor de reformas democráticas e mais liberdade política.

Neste livro, um professor aposentado percebe estranhos acontecimentos conspiratórios envolvendo pessoas próximas e logo descobre uma rede de intrigas por motivos políticos. Trata-se de um recado oculto para aqueles que, pretendendo mudar o mundo, acabam eles mesmos se transformando em assassinos e nos supostos "demônios".

Este tema também é abordado no romance Pais e Filhos, de Ivan Turgueniev (1818-1883), outro notável escritor russo.

Em Os Irmãos Karamazov, de 1880, o autor manteve o padrão notável de sua obra. A história gira em torno de Fiodor Karamazov e seus filhos, envolvendo uma disputa por herança, um triângulo amoroso e inúmeros conflitos que ocorrem ao longo do tempo. O autor abusa de uma narrativa cheia de minúcias caracterizando os personagens, cidades, paisagens e casas em todos os detalhes. E novamente enfatiza a questão da pobreza da Rússia Czarista. O psicanalista Sigmund Freud (1856-1939) considerou a obra como "símbolo mais emblemático dos conflitos familiares". Uma obra cuja densidade da trama prende o leitor até o final do livro.

Para ler é necessário muito esforço e tempo, pois a obra tem mais de 600 páginas. Mas, ao final, sua leitura é muito impactante e inspiradora pelos seus questionamentos sociais e religiosos.

Há nítido paralelo entre esta obra de Dostoiévski e Cem Anos de Solidão (1967) de Gabriel G. Marques.

Faleceu jovem, com apenas 59 anos, mas produziu uma obra literária nobre, densa e até hoje necessária para se conhecer a história russa.

Ler e reler Dostoievski é mergulhar nas profundezas da alma humana.

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